terça-feira, 10 de novembro de 2009

Microscópio Eletrônico de Varredura: uma ferramenta arrojada



Sem a perspicácia do pesquisador nenhum instrumento, nenhuma ferramenta que lhe amplie a capacidade de percepção faz sentido. Mas, a serviço de um profissional curioso, arguto e competente, os avanços tecnológicos podem proporcionar novos e significativos conhecimentos.

Foi assim quando as lentes de aumento combinadas resultaram nos primeiros microscópios que permitiram saber que todos os seres vivos são formados por unidades que foram denominadas de células. Isto porque as células são tão pequenas, que para visualizá-las precisamos que sejam aumentadas em pelo menos 400 vezes. Bem, se elas são tão pequenas assim, o que dizer dos componentes que estão mergulhados no seu citoplasma e no seu núcleo?

Com o passar do tempo, as ferramentas também são aprimoradas. Aquele microscópio rústico que Robert Hooke utilizou para visualizar as ´celas` da cortiça, um tecido morto mas que já fora funcional, cedeu lugar a microscópios potentes e variados. Isso quer dizer que não apenas permitem que mergulhemos nosso olhar até a ultraestrutura dos corpos dos seres vivos, que chegam a ser ampliadas em até 200 mil vezes, como usam de diferentes meios e princípios para isso.

Nos nossos estudos, para podermos conhecer como são e como funcionam as diversas estruturas secretoras de Croton glandulosus, além do microscópio óptico (MO), um microscópio tem especial aplicação. Trata-se do microscópio eletrônico de varredura (MEV), que serve para observação de superfícies com aumento de até 100 mil vezes.


Microscópio Eletrônico de Varredura – à esquerda aspecto geral e à direita visto de lado e aberto, com material para ser observado sobre o cone.


Devido à maneira como essas imagens são criadas, elas tem aparência tridimensional. As diferenças básicas entre o microscópio óptico (ou de luz) e o eletrônico é que neste último não é utilizada a luz, mas sim feixes de elétrons, esses eletrons não atravessarão as estruturas biológicas, como acontece com a luz dos MO, e as estruturas da superfície poderão ser vistas com mais detalhes.


Inflorescência de Croton glandulosus - (A) fotografada no campo; (B) em laboratório sob uma lupa, quando já se pode ver estruturas secretoras alaranjadas no formato de garrafinhas e (C e D) ao microscópio eletrônico de varredura mostrando as mesmas estruturas secretoras (garrafinhas) com maior aumento e detalhes.


Como funciona o microscópio eletrônico de varredura (MEV)?

Para observações com o MEV não é necessário que se façam cortes finos do material, porque o que se vai observar é a superfície, seja de uma cerâmica, folha, flor, cabeça, olhos e antenas de insetos, grãos de pólen, metal etc. Além disso, não haverá luz atravessando o material, e, sim, um feixe de elétrons incidindo sobre ele.
A imagem em MEV poderá ser vista desde um aumento semelhante ao de uma lupa de mão, de 10 a 40 vezes, até 100.000 vezes. Mas, para isso, uma amostra biológica precisa ser primeiramente fixada, quer dizer, precisa ter as suas estruturas preservadas, o que se faz mergulhando-a em uma solução contendo glutaraldeído ou formaldeído. Depois ela será desidratada para retirada total da água existente no seu interior. Finalmente, será coberta com uma finíssima camada de metal (ouro, ouro/paládio, platina, tungstênio etc) ou grafite.


Folhas de Croton glandulosus que passaram pelos processos de fixação, desidratação e metalização; estão prontas para serem observadas e fotografadas.


Este processo é conhecido por metalização e servirá para que a amostra biológica interaja com elétrons que são disparados por uma fonte especial e usados para varrer sua superfície. Quando isto acontece, elétrons secundários serão desviados desse material biológico metalizado e capturados em um coletor. Em seguida o sinal será amplificado e transformado em pontos de maior ou menor luminosidade nas tela de um monitor acoplado ao microscópio. Essa imagem que se forma tem aspecto tridimensional e poderá ser gravada.
Não é fantástico o que pode nos revelar com uma ferramenta como essa? No entanto, construir o conhecimento científico a partir dessas imagens requer muito mais do que o olhar, requer, além de uma bagagem de conhecimentos básicos já acumulados pela humanidade, a capacidade de pensar, um pensar aguçado, articulado, que contemple e vá para além do óbvio.


Lucia Maria Paleari
Silvia Rodrigues Machado



Mais informações sobre microscopia eletrônica em:
Instituto Biológico